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Dr. Igor Lago
MARANHÃO
Há mais de um ano escrevemos um texto sobre o nosso estado, no qual
fizemos algumas considerações sobre a sua história política e seus
diversos atores.
Todos sabemos que o nosso estado é o único que
ainda não teve, desde a redemocratização do país, uma alternância
política efetiva de poder.
Historicamente, os grupos políticos que chegaram ao Palácio dos Leões, de uma forma ou de outra, se prolongam, se eternizam, se perpetuam e ficam determinando os nossos destinos por 10, 20 ou, como agora, quase 45 anos.
Dizem que aqueles dois leões, que vigiam a entrada principal do
Palácio, são os principais responsáveis por essa nossa “ditosa”
tradição.
É bem verdade que, ao contrário do que costumamos
dizer, ler e escrever sobre o domínio político do grupo atual, houve
dois interregnos, a exemplo do período Nunes Freire, em plena Ditadura
Militar, que teve sua indicação patrocinada pelo então longevo e
ex-mandante local Vitorino Freire que, apesar da derrota eleitoral de
1965, ainda atuava nos cenários políticos estadual e nacional, numa
evidente vitória na disputa sobre o seu antigo aliado, José Sarney.
O outro interregno só veio a acontecer em 2006 e, por pouco tempo, 2
anos, 3 meses e 17 dias, o tempo de duração do mandato do governador
Jackson Lago. Atenho-me, exclusivamente, à eleição de 1965, às
indicações políticas aprovadas pelos militares, formalizadas por meio
das eleições indiretas na Assembléia Legislativa, e às candidaturas
eleitas dos governadores desde 1982 que, como costumo lembrar, pairam a
suspeição da eleição de 1994 e a frustração com o imbróglio jurídico que
envolveu o TRE e o TSE, o que evitou o segundo turno em 2002. Das
brigas e desentendimentos internos durante os diferentes governos do
grupo dominante - o sarneyísmo-, somente a última lhes resultou
prejudicial, a que levou o ex-governador de então a apoiar as oposições
em 2006.
A ideia da unidade das oposições não é nova, vem de
longe. É muito natural que se pense em união de forças políticas
diferentes ou semelhantes, quando se tem um objetivo maior que dirima as
suas diferenças. Entretanto, esta nunca foi alcançada num primeiro
momento. Em 2006, a unidade das oposições só se deu no segundo turno.
Em 2010, quando havia uma forte razão para que esta acontecesse – a
cassação do mandato legítimo de um governador oposicionista -, os
interesses de grupo e pessoais prevaleceram e, durante a campanha
eleitoral, o comportamento desleal de um setor para com um outro acabou
provocando a não realização do segundo turno. Uma oposição desgastou a
outra, representada pelo ex-governador Jackson Lago, até o dia da
eleição, o que fez com que muitos eleitores deixassem de votar, votassem
em branco ou nulo.
Desde 2010, assistimos as ações de um
mesmo grupo oposicionista no sentido de hegemonizar-se, a qualquer
custo, sobre as demais, e no eleitorado que deseja a alternância
política. O seu candidato não parou de fazer campanha eleitoral desde
então, o que reflete nas pesquisas patrocinadas pelo mesmo grupo ao qual
representa. Não sabemos de programas de governo, de compromissos e
ideias concretas para o estado. E tem contado com a ausência de outros
nomes que poderiam muito bem se apresentar e, assim, enriquecer o debate
dos problemas e a busca por soluções para os nossos diversos problemas.
Ao contrário do que pensam, isto seria de bom proveito para a população
e as diferentes oposições, inclusive eles.
Em todo esse
período, não teve nem mesmo a iniciativa de fazer uso da ideia de
formação de um “governo paralelo”, ao estilo do outrora trabalhista
inglês shadow cabinet (gabinete sombra), para se contrapor às ações
administrativas do atual governo estadual. Preferiu o de sempre, a
mesmice das promessas de palanques, das frases superficiais, da
exploração do sentimento natural do eleitor que quer a mudança e, acima
de tudo, tentar penetrar nos espaços políticos e administrativos do
governo federal, amplamente ocupados e a serviço do grupo dominante
estadual, levando alguns prefeitos e/ou lideranças políticas para serem
recebidos por ministros e funcionários, no afã de obter algum dividendo
político-eleitoral.
Pior, esse mesmo grupo oposicionista tenta
se impor aos outros e a todos como a única solução, o único caminho, a
única via para se conquistar a alternância de poder no nosso estado.
Assim, optam pela estratégia de um tosco salvacionismo, um barato
messianismo com o ungido já “escolhido e eleito”, conforme percebemos
nos espaços midiáticos tradicionais e alternativos. Ai de quem se atreva
a pensar, falar e escrever diferente! Quando surge algum texto, ideia
ou palavra discordante, atiram as pedras e soltam os cachorros para
inibir ou calar aos poucos desinibidos. É o que temos assistido, o que
não é nada mais que um comportamento pouco afeito à democracia e típico
dos autoritários.
O debate, a diferença, o pluralismo, a
tolerância e a transparência devemos sempre preservar, principalmente
num país cujas instituições estão ameaçadas pela corrupção e pelo
distanciamento de seus políticos e a sociedade.
Daí que
devemos ver com bons olhos, e torcer muito, para que a pré-candidatura
ao governo da deputada estadual Eliziane Gama (PPS) consiga superar
todos esses obstáculos e sensibilizar parte das oposições. A tarefa não é
simples e pequena. A camisa de força está aí, no nosso dia-a-dia. Cabe a
todos nós, que pensamos diferente, ajudar a tirá-la.
Igor Lago
01/09/2013.