Jornal dos Marinho aponta mistura "inflamável"
entre inflação e reeleição e diz que a presidente Dilma tenta manter o
mercado de trabalho aquecido a qualquer preço. No fundo, no fundo, o que
o jornal pede é a elevação da taxa de juros na próxima reunião do
Comitê de Política Monetária
Brasil 247
247 – No editorial desta quarta-feira, o Globo
aponta mistura "inflamável" entre inflação e reeleição e critica ainda
supostas manobras da presidente Dilma Rousseff para manter o mercado de
trabalho aquecido a qualquer preço: "a tentação é grande, mas ressaca
virá em 2015". No fundo, no fundo, o que o Globo pede é a elevação da
taxa de juros. Leia:
A mistura inflamável de inflação com reeleição
É grande a tentação de manter o mercado de trabalho aquecido,
considerado a explicação da alta popularidade da presidente. Neste caso,
a ressaca virá em 2015
Aprevisão de que 2013 seria um ano em que o Banco Central precisaria
ter sangue frio se confirma, e é até mais ampla: o próprio país precisa
manter os nervos sob controle, pois, como esperado, a inflação deverá
superar o teto da meta de 6,5%, e o BC faz o possível para retardar ao
máximo o aumento da taxa básica de juros, hoje em 7,25%.
O presidente do BC, Alexandre Tombini, esteve ontem no Senado e
repetiu o discurso clássico de que o compromisso da instituição é com a
meta de 4,5%. Não poderia ser diferente. E que o “instrumento de
política monetária”, os juros, será usado para fazer a taxa de inflação
convergir para a meta, assim que o BC considerar necessário. Por
suposto. À medida que o tempo passa, porém, e depois que governo e PT
anteciparam a campanha eleitoral de 2014, análises de cenários
econômicos precisam levar em consideração as urnas. E parece evidente
que o governo Dilma, a esta altura, não se lançará num combate à
inflação com o vigor necessário. É revelador, neste sentido, que o
presidente do BC, quando Dilma, na África do Sul, depois de defender a
prioridade do crescimento sobre o controle da inflação, tentou consertar
a derrapagem, tenha previsto que também em 2014 a inflação estará acima
dos 5%.
Nos quatro anos de governo, Dilma terá mantido os preços rodando bem
acima da meta, que é de 4,5%, com dois pontos de margem de tolerância,
acima e abaixo. Reforçam-se os temores de que, na prática, o governo
reviu a meta, criando uma nova, na faixa dos 5,5%, taxa muito elevada em
escala mundial, mais ainda para uma economia com conhecidos mecanismos
de indexação (contratos de aluguel, etc). O irônico é que os
"desenvolvimentistas" sempre justificaram a inflação como contrapartida
de um crescimento vigoroso. Mas este não existe.
O governo Dilma vive o grande dilema político-eleitoral: agir logo
para cortar o fôlego da inflação e correr o risco de aumentar o arsenal
da oposição, ou deixar como está e esperar o primeiro ano de um segundo
mandato para fazer um ajuste com firmeza, como o executado por
Lula/Palocci em 2003.
É grande a tentação de manter o mercado de trabalho aquecido, o
desemprego pouco acima de 5%, considerado a principal explicação para os
altos índices de popularidade da presidente. Mesmo que a pressão sobre o
custo dos empregadores ajude a inflação e reduza a produtividade da
indústria, já em queda.
Se não é simples o cenário econômico-eleitoral à frente do Planalto,
também preocupa o de 2015. Defensores do governo acusam os críticos da
leniência com a inflação de quererem condenar o pobre que passou a tomar
banho com sabonete de marca a voltar ao sabão em barra.
Mas isso também acontecerá pela perda de poder aquisitivo que a inflação já impõe às famílias de renda mais baixa.