Quem é o chefe do estratégico PDT?; é o que se vai
saber na convenção nacional do partido, no fim deste mês; o ex-ministro
Carlos Lupi (à esq.) tenta se reeleger presidente sob a artilharia
pesada do atual titular do Trabalho Brizola Neto e também do ex-marido
da presidente Dilma, Carlos Araújo (à dir.); de que lado ficaria o velho
e bom líder trabalhista Leonel Brizola (centro, com Dilma)?
Marco Damiani _247 – A luta interna está rasgada
no PDT fundado por Leonel Brizola (1922-2004). Mesmo quando ele
liderava a legenda, as desavenças eram corriqueiras – e sempre
terminavam em expulsão ou enquadramento dos dissidentes. Afinal, ali
havia um chefe político incontestável. Agora, no entanto, o quadro é
outro.
Presidido pelo ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi, que deixou o
governo sob suspeita de corrupção e pesadas críticas da presidente Dilma
Rousseff, o PDT tem um papel estratégico a cumprir na sucessão de 2014.
Caso Lupi se mantenha à frente da máquina partidária, na eleição que
vai acontecer durante a Convenção Nacional da legenda, no dia 23, o
partido passará o recado de que estará se afastando da base aliada do
governo. O caminho, então, passo a passo, deverá ser na direção ao apoio
ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, em seus planos de
suceder a presidente, em 2014.
Para a hipótese de vencer o atual ministro do Trabalho Brizola Neto,
que pode ser ele próprio candidato ao cargo ou apoiar o ex-prefeito de
Porto Alegre Alceu Collares, o PDT estará definitivamente fechado com a
sustentação política da presidente.
"O Brizola significa o alinhamento total ao projeto Dilma-PT. O Lupi
pode significar outra coisa", resume o senador Cristovam Buarque
(PDT-DF). "É uma alternativa de alinhamento ou de independência."
Como bandeira, o grupo liderado por Brizola Neto critica a falta de
democracia interna no PDT. "Entendo que todas as decisões deveriam ser
tomadas de forma coletiva dentro do partido, o que não vem acontecendo",
critica o atual ministro Brizola Neto. A irmã dele, deputada estadual
pelo PDT gaúcho Juliana Brizola, faz coro. "Não dá mais para que um
presidente se perpetue no poder sem ter representação e identificação
popular", argumenta Juliana. "O estatuto está datado, é da época do meu
avô. Não foi feito por Brizola, mas para o Brizola", distingüe. Ela
afirma com todas as letras a disposição de seu grupo. "A gente entende
que é muito importante esse caminhar com a presidente Dilma. Para mim, a
Dilma é o meu avô Leonel Brizola na Presidência da República. E melhor:
ela é mulher."
Nessa arenga, acaba de entrar o ex-marido da presidente Dilma, Carlos
Araújo. Militante histórico do PDT, pelo qual foi deputado estadual no
Rio Grande do Sul e duas vezes candidato a prefeito de Porto Alegre, ele
se desfiliou do partido em 2004, mas resolveu, agora, voltar a assinar
ficha de filiação para combater o que considera ser o mandonismo de
Lupi.
"O PDT se afastou do trabalhismo", diz Araújo. Ele evita, em
declarações públicas, bater de frente com Lupi, mas é um dos mais
ativos, nos bastidores, a trombar com o ex-ministro. Atento à leitura do
quadro interno da agremiação, Araújo admitiu, em entrevista ao jornal
Sul 21, que a luta contra o ex-ministro é dura. "Vai ser muito difícil
uma renovação agora", admtiu.
A mesma leitura é feita pelos sindicalistas da Força Sindical,
ligados ao deputado federal Paulo Pereira da Silva. Eles foram
procurados pelo ministro Brizola Neto em busca de apoio da Convenção,
mas manifestaram a alternativa de uma composição. "Nós não somos
trotskistas para perder uma disputa apenas para marcar posição", disse
ao 247 o secretário-geral da Força, João Carlos Gonçalves. "Nossa
estratégia é pela acumulação de forças e, nesta medida, achamos que é
possível compor com Lupi nos demais cargos da direção do partido".
Para Juruna, as chances do grupo do ministro Brizola são pequenas, o
que não deveria significar uma luta fraticida, que termine num racha do
partido "É preciso pacificar internamente o PDT, pararmos de brigar
entre nós para avançar de maneira unida", sustenta o sindicalista. Ele
foi um dos dirigentes da Força Sindical que se reuniram com o governador
de Pernambuco, Eduardo Campos, na segunda-feira 4, em Recife. "Não
tenho dúvidas de que, se o governador concorrer à Presidência da
República, muitos dirigentes nossos estarão com ele", acrescentou o
líder sindical filiado há mais de uma década ao PDT.
O clima, no entanto, está quente demais para se garantir que a atual
luta interna não terminará numa divisão irreconciliável. Para os
Brizola, deixar o partido fundado pelo avô será um trauma, mas conviver
sob o comando do ex-ministro Lupi vai se mostrando insuportável. O mesmo
acontece em relação a Carlos Araújo e o grupo de pedetistas mais
próximo à presidente Dilma. Ela já foi militante do partido e admiradora
confessa de Leonel Brizola. Bater em retirada após a convenção, para
Carlos Araújo e seus próximos seria deixar as coisas fáceis demais para
Lupi, caso ele vença mesmo a Convenção. No entanto, quanto mais a
eleição presidencial de 2014 se aproximar, mais difícil será a
manutenção da atual correlação de forças dentro do partido.
Brasil247
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