Presidente Dilma Rousseff nem precisou demitir Orlando Silva do Ministério do Esporte; em reunião no gabinete do Palácio do Planalto, ele próprio pediu para sair; “estou indignado, a verdade irá aparecer”, disse em entrevista
247 – Após uma breve reunião no gabinete da presidente Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto, com o então ministro Orlando Silva, do Esporte, e o presidente do PCdoB, Renato Rebelo, ficou acertado que Silva não mais faz parte do governo. “Eu pedi afastamento para defender a minha honra e o próprio governo”, disse ele aos jornalistas, em entrevista coletiva logo a seguir. “Em poucos dias, poucas semanas, a verdade vai aparecer. Estou indignado”.
Silva procurou sustentar a posição de que não aceita como verdadeiras as denúncias feitas pelo policial militar João Dias Ferreira em relação a desvios de verbas em convênios mantidos pelo Ministério do Esporte com ONGs ligadas, em sua maioria, ao próprio PCdoB. “Sofri um ataque vil que terá de ser provado na queixa-crime que eu apresentei á polícia. Eu tomei a iniciativa de pedir a apuração do que foi dito”.
Abaixo, notícia publicada hoje por 247 a respeito da queda do ministro:
247 – Desta vez não faltou boa vontade. A mesma presidente Dilma Rousseff que vociferava diante do descalabro patrocinado pelo então ministro Alfredo Nascimento, dos Transportes, no primeiro semestre, agora agiu com toda a calma diante da crise no Ministério do Esporte.
Colhida de surpresa na Europa pela primeira denúncia do PM João Dias Ferreira, por meio da revista Veja, contra o ministro Orlando Silva, Dilma teve uma primeira reação comedida, ao reiterar confiança nele e cobrar provas a respeito dos supostos desvios de recursos do caixa do Ministério para ONGs controladas pelo PC do B. Ao mesmo tempo, numa única ordem, determinou que Silva deixasse Guadalajara, onde acompanhava a delegação brasileira nos Jogos Panamericanos, para retornar ao Brasil e se explicar. A presidente, neste ponto, foi em tudo coerente com sua promessa de levar os acusados a se defenderem, sem sua intromissão direta nem no ataque, nem na defesa do auxiliar.
Sobre Orlando Silva, a presidente não passou nenhum pito público ou privado. Uma vez no Brasil, após o périplo europeu, Dilma prosseguiu na linha de exigir provas sobre as denúncias e reafirmar que Silva, um ministro de “cinco anos” de governo, ainda tinha a sua confiança. Foi como se a presidente estivesse trabalhando não exatamente para derrubar o auxiliar, mas para que ele caísse sozinho.
E isso prevaleceu. Apesar de poupado da fúria de Dilma – ao tirar do cargo o então ministro da Defesa, Nelson Jobim, a presidente agiu com requintes de crueldade, quando o fez sair da Amazônia diretamente para uma fria e curta reunião de exoneração no Palácio do Planalto --, Orlando Silva foi engolido pelos fatos, uma sucessão de descobertas, pela imprensa, de que os convênios assinados entre o Ministério e as ONGs controladas pelo PC do B eram de rumorosa promiscuidade.
Em Manaus, anteontem, onde inaugurou ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma ponte sobre o rio Negro, Dilma ainda fez mais um gesto favorável à permanência do ministro. Ao saber que entre as 13 mídias entregues pelo PM Dias à Polícia Federal não havia a voz de Silva, a presidente chegou a telefonar para o ministro, encorajando-o a acreditar que o pior da crise já passara.
Mas vieram novos fatos. O maior deles, a decisão da ministra Carmem Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, que determinou abertura de inquérito na corte para investigar todos os convênios da pasta. Ao lado dessa razzia anunciada, Silva foi muito mal em audiência, ontem, na Comissão Especial da Lei Geral da Copa, irritando a oposição ao tentar tergiversar sobre o assunto principal. “O melhor para a Copa do Mundo é que Orlando Silva fique bem longe dela”, atacou o deputado ACM Neto, do DEM. É o que vai acontecer a partir de agora, quando Silva, na tarde de hoje, entregar à presidente sua carta de demissão.
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