MARCAÇÃO DE CONSULTAS

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terça-feira, 12 de abril de 2011

O suplente

A rotina de Garibaldi Alves pai, que aos 87 anos assumiu uma vaga no Senado



O que você faria se, aos 87 anos e sem ter recebido nem um mísero voto, se tornasse de uma hora para outra senador da República, com salário de 26,7 mil reais e quase 100 mil reais de verba de gabinete, carro oficial e outras benesses? Pelo visto, quase nada. O senador Garibaldi Alves, que tomou posse como suplente em janeiro, até agora não fez muito além de assinar a presença e ficar sentado quietinho no plenário da Casa durante as sessões.
De tão sossegado em seu canto, pouca gente se deu conta de que Garibaldi assumiu em janeiro não como suplente do filho, também Garibaldi, que tomou posse no Ministério da Previdência Social, aquele “abacaxi”, segundo o próprio. Por um desses arranjos que conferem à política brasileira sua graça natural, o ancião é na verdade suplente da demista Rosalba Ciarlini, aliada do clã, eleita em 2010 para o governo do Rio Grande do Norte.
Todas as tardes, por volta das 15h30, Garibaldi pai percorre de cadeira de rodas os 140 metros do chamado túnel do tempo, corredor que liga os gabinetes ao plenário, acompanhado de dois assessores. Ergue-se, é amparado até seu assento e lá permanece por cerca de duas horas. De vez em quando, um colega passa e lhe faz um aceno, ao qual responde cordial. Um ou outro se aproxima, troca algumas palavras, lhe dá um tapinha nas costas e sai. O laptop com conexão wi-fi em frente ao senador permanece intocado neste meio tempo. Não se sabe se estará curioso em descobrir os aplicativos do iPhone 4, com que acabam de ser regalados os senadores.
Desde que assumiu, Garibaldi Alves leu dois discursos. O primeiro o levou às lágrimas ao prometer, no final: “Tudo farei para cumprir meus deveres como senador da República em defesa do Brasil, do Nordeste e do Rio Grande do Norte”. Honrou o plenário novamente com sua prosa ao homenagear José Alencar com a história de um encontro entre os dois nos anos 1970, quando Garibaldi dirigia a Indústria Têxtil Seridó e negociou com o ex-vice de Lula a instalação de uma das empresas do Grupo Coteminas no estado. Ainda não apresentou nenhuma proposição de sua autoria, mas o tempo corre a seu favor. Ou não?
Antes de se tornar senador, Garibaldi Alves foi deputado estadual por três vezes, cassado em 1969 pela ditadura, que o deixou inelegível por dez anos. Entre 1987 e 1990, ocuparia o cargo de vice-governador do Rio Grande do Norte. Agora, provavelmente o novato mais idoso do Senado brasileiro, quiçá mundial, sua posse foi celebrada na imprensa potiguar como um retorno à vida pública após 21 anos.

Carta Capital

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